Epuff…ania

Quando eu quero organizar as ideias, coloco um CD de música clássica no volume máximo e organizo o freezer e a geladeira. Faço um inventário meticuloso que começa com a identificação dos ovos por data de compra e termina com a organização simétrica das laranjas na gaveta. Revejo o que existe congelado no freezer. Realoco os itens nas prateleiras de acordo com a data de consumo. Descarto potes sem data, cuja cor e aparência já não trazem pistas de sua origem em um jantar distante (“Só sobrou um restinho mas está uma delícia, congela que a gente come domingo que vem.”) Por fim, com todos os potes na geladeira arranjados por tamanho e com o rótulo voltado para a frente, termino a atividade com a mente tranquila — pelo relato que ouço dos adeptos da meditação, o efeito deve ser semelhante.

Hoje eu acordei, escolhi um CD favorito (a trilha sonora do filme Bleu, do Kiéslovski) e coloquei no aparelho. O tempo nublado, o clima ameno, a casa em silêncio e eu antevendo o prazer da arrumação da próxima meia hora. O aparelho fez um puff…, soltou uma fumaça com cheiro de queimado e apagou sem devolver meu CD.

Puff! Fiquei sem meu CD, perdi a graça de arrumar tudo, decidi começar a segunda-feira com as ideias confusas e mal organizadas, algumas novas, algumas velhas, algumas congeladas sem pistas de sua origem em uma epifania distante (“Que ideia incrível, segunda-feira que vem começo esse projeto sem falta.”)

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